quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Dançar é viver


A vida é como uma dança; há momentos em que temos
De voltar atrás para corrigimos os mesmos passos,
Há momentos que caímos e nos levantamos rapidamente,
Para não perdemos o compasso.

Dançar é como a vida que flui no espaço, flutuar com os pés no chão.
Romper as muralhas do intangível,
Transmitir pelo corpo, sentimentos mais profundos da alma
Viver transferindo os desejos da emoção.

A vida requer pequenos passos, grandes saltos,
A dança sugere paciência e concentração.
Dançando se vive as paginas de um espetáculo,
Dançar suporta a vida de nossos partos.

Contemplar a magia da dança é viver como um mudo no silencio dos falantes,
Muito mais que jogo ou olhar;
Viver sem medo de errar.
Tendo a certeza que a musica nunca vai acabar.



Augusto Ferreira

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A CRISE DO ROMANCE: VISÃO DE WALTER BENJAMIN




No livro Berlim Alexanderplatz (1929), Alfred Döblin narra a história de Franz Biberkopf, um ex-presidiário que tenta ser “decente”. A obra é uma epopéia urbana, em que são relatados os golpes sofridos pela personagem e, em conseqüência deles, suas desilusões. Biberkopf vai descobrindo que não é fácil atingir seu objetivo; a maldade dos inimigos chega ao ponto de ele ser atirado para fora de um carro em movimento e, por causa disso, perder o braço direito.

Döblin poderia contar essa história utilizando uma técnica tradicional, tal como a empregada nos romances do século XIX. No entanto, ele opta por uma linguagem que representa fragmentos de episódios. Compete ao leitor reunir os “estilhaços” em que se apresenta a narrativa, se quiser compor uma paráfrase. De qualquer modo, sente-se que a linearidade e a coesão das fábulas estão definitivamente perdidas. Assim como um vaso colado não é o mesmo de antes, certas narrativas trazem as marcas da perda da totalidade.

O narrador de Berlim Alexanderplatz pode ser visto como a personificação de uma sensibilidade atenta ao pulsar de uma realidade complexa e, no caso da Alemanha, durante a frágil República de Weimar, anunciadora da catástrofe nazista. Esse narrador luta por estar em toda a parte, dentro e fora da consciência das personagens; percorre as ruas, os bares e o matadouro; revisita o texto bíblico e a tradição oral; constata a presença da morte preparando o sacrifício (em vários pontos da história, aparece, como um refrão, a frase: “Ceifeiro é, de morte chamada”); em suma, empenha-se vertiginosamente pelo máximo de onisciência possível.

Embora o exercício da sabedoria narrativa, tal como se apresentava nas narrativas tradicionais, tenha se tornado impossível devido à privação moderna da “faculdade de intercambiar experiências”, a narração de Berlim Alexanderplatz empreende um retorno ao relato épico, para contar a história de Franz Biberkopf. Mas, neste caso, trata-se de uma narrativa que expõe suas raízes urbanas, fincadas na Zona Leste da Berlim dos anos 1920. Desse modo, o ponto de vista do narrador (ou sua multiplicidade de pontos de vista) posiciona-se no lado de dentro do setor proletário e pequeno burguês da cidade. O recurso de estilo adotado para a representação estética desse contexto foi a montagem, tal como assinala Walter Benjamin, em “A crise do romance”. Mas o “sábio” a que Benjamin se refere não é a personagem épica; é a desencantada personagem romanesca, “amadurecida”, detentora da “sabedoria” burguesa; o herói burguês convive harmoniosamente com a miséria. Enquanto sentia a “fome de destino”, Franz foi punido severamente. No final do livro vamos encontrá-lo resignado, já moldado pelas forças do destino urbano e gozando da melhor vida que a sua condição lhe permitiria: agora ele é “auxiliar de porteiro numa fábrica de média dimensão”.
Sendo assim, a montagem döbliana, embora tenha resgatado a narrativa épica, não tem o caráter passivo do poeta que apanha conchas na praia; ela é técnica de enfrentamento, pois, levando o mundo externo a se manifestar, obriga-o a revelar toda a iniqüidade que lhe é subjacente. Portanto, a força de representação dessa epopéia moderna, que é Berlim Alexanderplatz, provém justamente de sua forma: por meio da montagem, Döblin manifestou profunda sensibilidade e consciência de determinada realidade urbana — em que já se fazia sentir o perigo da perversão coletiva, fomentada pelo nazismo.

Solo "Enigma" - Escritos do intérprete Luís Ferreira sobre o seu processo criativo.




Assim como o corpo é composto de órgãos, músculos, ossos, pele e poros, um casarão é composto por janelas, portas, mirantes, escadarias, corredores e azulejos, um verdadeiro labirinto.
INTRODUÇÃO


Partindo do pressuposto da depredação e deterioração dos casarões de São Luis, que há mais de quinze anos é considerada como patrimônio histórico cultural da humanidade, o núcleo atmosfera de dança-teatro, mostra sua inquietação na apresentação de o labirinto dos poros onde a relação corpo, texto, imagens e objeto tornam-se presentes na co-relação entres esses casarões, paradoxo é afirmar que com grande acervo arquitetônico, esse tesouro histórico se ver esquecido ao tempo, nesta luta o intuito do núcleo é buscar do público ludovicense a reflexão de que enquanto esses casarões estão caindo muitos grupos artistas estão necessitando de seu próprio espaço, na solução em que a melhor política é a ocupação do mesmo.



“A explicação do enigma é repetição do próprio enigma”( Clarice Lispector )
"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..." (Clarice Lispector)



NA PARTITURA DE “ENIGMA” SOB A DIREÇÃO DE LEÔNIDAS PORTELLA, AS ETAPAS FORAM:

• A escolha da escritora Clarice Lispector ditada pelo próprio diretor e a explicação do objetivo do espetáculo de um modo geral
• Pesquisa referente a escritora
• A escolha da musica (Toledo da Coletânea Solares-artista Corciolli) pelo interprete, fazendo uma composição de movimento a partir do estimulo musical, com a ajuda de alguns componentes presentes.
• A leitura de imagens que foram criadas a partir deste estimulo musical
• O estabelecimento de um conflito central relacionando o texto ao contexto com o objetivo de transformar sentimentalmente o publico que assiste
• A interação de movimentos com outros componentes do núcleo foi matéria primordial na construção da partitura.
• Construção de movimentos que surgiram de jogos teatrais, como vários quadrados de fitas feitos no chão.



IMAGENS UTILIZADAS NA CONTRUÇÃO DO SOLO:


• “Em um bosque uma mulher de vestido vermelho olhando para toda a família, logo em seguida aparece um homem e tenta agarra - lá,fadas coloridas aparecem em sua volta.Retorna correndo à sua casa, abraça uma criança e arranha na cabeça e a mesma desaparece.Desesperada leva a mão ao rosto e arranca um dos olhos.Depois percebe que estava dormindo e levanta da cama.As fadas tornam-se más. ( Imagem de Sarah Reis)
• Ver uma mulher sofrendo( sentimentos) Supera este sofrimento e abraça o mundo.(Imagem de Cleyce Colins)
• Uma mulher parada no meio da estrada com dois caminhos se seguisse pelo primeiro saberia que iria viver com os mesmo sentimentos, a mesma vida. Se fosse pelo segundo sentiria os sentimentos do mundo, uma nova vida,mas ela não escolheu nenhum dos dois.( Imagem de Luriana Barros)
• Mulher de vestido em passagem de um mundo, mas tinha que deixar o mundo de antes, isto lhe gerava uma dor, sofrimento até se libertar. Ao ver este outro mundo lhe deixou muito fraca. (Marlon Anderson)


EXPLORAÇÃO DE IMAGENS



Não utilizei uma imagem específica na construção do solo, todas foram de suma importância, cada frase ou termo grifando reflete-se na elaboração do mesmo.
Com uma leitura bem atenta as imagens observamos que todas estão interligadas de uma forma em que a separação entre elas torna-se desafiador no que desrespeito as manifestações do escrito de Lispector.
A imagem dos dois caminhos, os diversos mundo, a criação, sofrimento e sentimentos, todas se condensaram naturalmente em uma amálgama de sentidos e ordens artísticas que não poderá se pensar em uma multiplicidade de influencias separada.



UMA VIDA QUE SE ESCREVE



Mistério, a essência de um mistério campo de retratação da filosofia enigmática do homem, esta é Clarice situada de forma presente em seus escritos deixou para o mundo uma apaixonante história de vida, cheia de altos e baixos, de personalidade forte, rodeada por diversos admiradores, foi o inicio e a continuação da literatura brasileira, onde nada decifra o enigma que Clarice foi.
Impossível é separar a vida da autora de sua obra, tudo está interligado nada foi de simples acaso todas suas frases de forte impacto, retratavam sua infância sofrida, mas cheias de vitorias, seu caráter materno, a preocupação com o nordestino e entre outros relatos que se tornaram presente em sua vida. Rainha da epfania, eu ao ler seus desfechos literários, pensei que não seria capaz por demonstrar através de movimentos corpóreos a retratação de sua figura importante para todos nós. Optei pela vida da mesma como base e inicio, logo mais o mesmo inicio serviu de iniciativa na definição de alguns textos como o conto “Amor”, a poesia de Carlos Drummond de Andrade “Visão de Clarice Lispector” e a obra “A hora da estrela” textos que expressão sentimentos retratados aos fatos da vida, um simples esbarrão que pode trazer a lembrança acontecimentos de uma vida inteira, um mascar de chiclete de um comum cego sentado no banco do bonde pode trazer átona sentimentos nunca antes revelados.
Não existe uma ou duas, são inúmeras em uma, em cada pagina uma nova faceta e revelada ao leitor, novos amores são descobertos e ficam-se perguntas ao vento; será ou não será a Sr ª Lispector querendo se esconder por detrais de suas personagens que mais parecem alto retrato de sua vida? Ou será o fruto dos momentos de conflito entre ela e sua inseparável amiga: a máquina de escrever? No mundo nada responde o porquê da questão basta sentir e tudo virá com bombardeios de inquietação da expressividade de Clarice. Como colocar dentro de uma sala as paixões e dores desta mulher? Como sentir seus tormentos? E sua agonia no momento da queimadura no braço direito? Se eu não me entregar e me atirar em seus braços.
O som da máquina fala mais alto, diz o que tem de ser dito; - “ Quando não escrevo,estou morta”.Morre uma,duas, três, quantas vezes for possível até não viver mais, entretanto morre para escrever o que tem que ser escrito; -“ Quando eu não gosto,eu rasgo... Eu rasgo... rasgo até não gostar mais, rasgo uma, duas, três quantas vezes for possível até não rasgar mais ver que posso fazer o novo chegar a sua perfeição.
Labirinto dos poros, para mim um desafio, uma linha a ser quebrado, sair do normal e ficar inquieto com perguntas intrigantes na mente refletindo-se em repetições, em quedas, saltos e momentos de encontro. Minha vida se coincide com a de Clarice ao rasgar as folhas. Será coincidência?Creio que não, isto é, apenas a presença do ato.