quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Petite mort e Xama- segunda feira

Instaura-se mais uma maravilhosa parceria da Petite Mort Teatro, parceria esta que consiste na direção de Igor, preparação vocal com Nuno e treinamento físico comigo, e desta vez, agora com o Xama Teatro, uma Cia que possui uma energia contagiante e de uma místicidade amável. Pelo qual é entusiasmante perceber nos olhos das três fiandeiras, as três moiras e as três feiticeiras da forma como se jogam no processo.



O Meu primeiro encontro na segunda deu-se com esse exercício:


Exercícios;
• Alongamento, aquecimento, serie de flexão, abdominal, flexão aeróbica,

• Exército da corrente (imaginar uma perna envolvida por uma corrente pesada, e a outra perna livre, andar pelo espaço da sala de ensaio transferindo o peso da corrente para a outra perna)

• Manter no estado neutro (a qual chamei de zero)

• Contrair qualquer parte do corpo (exemplo; mão, pé, etc...)

• Deixar todo o restante do corpo no estado zero

• Colocar um impulso emocional ( amor, inveja, raiva) na região do corpo que está sendo contraída

• Ao contrair ao Maximo essa energia deve ser lançada para fora do corpo em uma explosão.

• Contrair novamente e a mesma energia ser lançada ao poucos

• Agora se deve contrair outra parte do corpo com outro impulso emocional contrario ao primeiro.

• Logo em seguida o corpo deve-se contrair como um todo e envolvido pelos dois impulsos emocionais divergentes.


Com este exercício percebe-se o quanto o corpo pode obter sensações diferentes sendo exposta por partes distintas do próprio corpo, a neutralidade serve como um equilíbrio da energia contraid para que haja a explosão. Pensar o corpo como um todo por partes faz com que cada vez que se execute uma contração ocorra um crescimento no movimento.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

PORTELA: a poética do corpo

Particularmente neste ano completam-se três anos a qual passei pelas portas da sala de dança do Arthur Azevedo, e me deparei com uma nova consciência linguística das metamorfoses do corpo, um organismo vivo, plástico e de uma estética espiritual do qual não estava acostumado a ver: era a Dança–Teatro e a poética do “corpo” de Leônidas Portela.


Durante todo o período da oficina o meu corpo sofreu alterações diversas, pois era um corpo modelados pelas linhas do clássico e que de repente encontrou na mágica sala de dança a liberdade de voar.Foi necessário sentir além do modo de viver, pois ali estava a vida. Dentro da dança, assim Portela vivia e vive, ao final de toda oficina muitos foram... Ficaram poucos e amizades se construiriam e finalizamos com o espetáculo “Sobre a pele;a lua”, tudo totalmente diferente do que estava acostumado.... as pausas.. respirar... olhares cheios de emoção preenchiam as coxias do teatro com suas danças, uma dança dos órgãos externos e internos.Logo depois, veio Frida, Safira, e por de traz de tudo sempre havia o olhar do poeta,que utilizava o corpo quando a fala não mais servia para comunicar.



Hoje por qualquer lugar que eu passe sempre fica a referência do mestre, os ensinamentos e o lema ao qual por hora e oura martela a memória “ Nossa vida... nossa dança ... Obrigado Leônidas.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

TEATRO E FILOSOFIA POR SOBRE O TABLADO

O Teatro nasce na Grécia assim como a Filosofia. Deste ponto as relações existentes entre estas duas formas de expressão da alma tornam-se cúmplices ao estarem em uma busca constante da explicação do ser [ inteligível/imutável], pelo qual o teatro que se utiliza de técnicas do elemento estético para representar espiritualmente a condição humana e encontra junto a Filosofia uma manifestação original da dimensão artística e da reflexão conceitual.


Para Aristóteles a idealização é o modo próprio da tragédia, onde aparece um herói fora do cotidiano do espectador, o que nos faz lembrar Brecht, quando em seu teatro estabelece um distanciamento, uma quarta parede, entre ator, personagem e público, este ultimo não se envolve no enredo da dramaturgia, estabelecendo assim uma atmosfera de valores que não se apagam quando se fecham as cortinas. Mesmo nascendo durante festas a Dionísio o Teatro começou a questionar o esforço humano para obter a ajuda dos deuses, assim a critica social cresce juntamente ao avanço cultural grego, a personificação dos elementos da natureza dentro dos ritos de fertilidades já não mais são suficientes para se entender o mundo da forma que é apresentada a este homem inquieto. Agora o antigo “xamã” que se portava da voz dos deuses, e que assumia o movimento dançante para se chegar ao êxtase do sagrado dá lugar a Téspis, o primeiro ator que se tem noticia, que empresta seu corpo e sua voz, para então assim representar a obra do poeta e distinguir o deus-ator, para o ator-personagem.



Para este primeiro momento da pesquisa nos prenderá na figura do ator; a distinção entre o ator que assume a voz dos deuses e aquele que apenas a representa, Assim, compreendemos que o teatro é dotado de ação, e o ator constitui-se enquanto elemento principal da ação; se retiramos o texto, o espaço da representação e toda maquinaria que compõe o teatro ele ainda existirá, no entanto se retiramos o ator do teatro este ultimo não mais fará sentido , visto que o teatro é arte do ator, pois foi Téspis que ao subir na carroça e distanciar-se do coro começou-se então a aparecer uma reflexão interior do filosofo, com um debate de ideias no movimento filosófico e com o processo de artes em detrimento das críticas da sociedade grega, com busca de sentido e valores da existência.


Para Nietzsche em O nascimento da tragédia. “O grego conheceu e sentiu os temores e os horrores do existir [...]”, este sentimento refletiu-se em sua arte dramática, onde destaca-se Sófocles que apresenta o homem enquanto detentor da consciência destes próprios horrores em um sofrimento sem saída, aqui percebemos que para Sófocles voltar-se contra os deuses, não significa um moira [ destino] de castigos supremos , mas sim um estagio de transformação e independência da condição humana , Édipo não deixa de enxergar e por ter furado os olhos, deixa apenas de ver as coisas matérias, passa a enxergar ainda melhor suas razoes existentes. É neste momento que o ator deixa de ser o canal de transposição da vontade dos deuses e constitui-se enquanto um representador.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

MORAL DE REBANHO E A VIDA NA CASERNA: a Genealogia da moral dentro da estrutura militar do Exército Brasileiro

Resumo

O referente trabalho busca apresentar uma leitura das relações existentes entre superiores e subordinados dentro da estrutura de patentes militares ao ponto da perspectiva Nietzscheana, pelo qual se observa a vontade de poder encontrada nos praças em relação aos oficias. Consequentemente esta relação alimenta-se de um desejo de ressentimento por parte dos praças, onde este cria uma condição de sentir-se superior quando elevado de patente para subjugar seus futuros subordinados.
Palavra-chave: Nietzsche. Militarismo. Poder. Exército Brasileiro.



1. INTRODUÇÃO

Caserna é a maneira carinhosa dos quais os militares rotineiramente chamam o ambiente do quartel, das escolas militares (EsSa – Escola de Sargento das Armas), das academias; neste caso a AMAN (Academia Militar das Agulhas Negras), dos centros de formação ( NPOR / CPOR – Núcleo/ Centro de Preparação de Oficias da Reserva). Desta forma esta palavra desloca nossos sentidos para uma habitação controladora de processos e de comportamentos não havendo possibilidade de discordâncias, novas ideias ou até mesmo em casos mais extremos algumas melhorias.
Assim, o militar formado ou como se costuma dizer o militar adestrado gera em seu espirito uma vontade de poder, a qual é realizada no momento de transição de seu estado de subordinado para superior e até mesmo a elevação moral por dentre seus pares.




2. O ESPIRITO DE VINGANÇA
O ressentimento de escravo para a condição servil colocado por Nietzsche em sua genealogia da moral provém de uma moral ocidental a qual o próprio filósofo refere-se ao judaísmo, que por sua vez apresenta-se enquanto um servo fiel cumplice da dor, está dor que levaria a purificação e um afastamento do prazer por meio de sua condição corporal dando importância extrema ao espirito.
“[...] não se castigou porque se responsabilizava o delinquente por seu ato, ou seja, não pelo pressuposto de que apenas o culpado devia ser castigado – e sim como ainda hoje seus pais castigam seus filhos, por raiva devida a um dano sofrido, raiva que se desafoga em que o causou; mas mantida em certos limites, e modificada pela ideia de que qualquer dano encontra em seu equivalente e pode ser realmente compensado, mesmo que seja com a dor do seu causador.” (NIETZSCHE, 2009, p. 48).
Desta maneira, Nietzsche elabora uma crítica ao elemento de afirmação pelo qual se move o pensamento da condição servil abrindo espaço para que as estruturas do espirito de vingança dialoguem inteiramente com o afastamento do prazer. Esta dor impulsionaria a um apelo de misericórdia existente no deslocamento da condição de escravo até a condição servil, neste âmbito o que vale é realmente poder concretizar a determinada vontade de poder, visto que a classe de sacerdotes mobiliza os escravos contra os guerreiros obtendo mais uma vez o espirito de ressentimento a qual se encontra os valores naturais e nobres.
Neste conceito compreendemos que o espirito de vingança comporta-se na autoridade de manifestar as condições de bom/mau e bem/ruim leva o homem do pensamento de Nietzsche para uma condição contingente e universal, tendo por base que estas condições em uma destruição do homem pelo homem. “Nesta esfera, a das obrigações legais, está o foco de origem desse mundo de conceitos morais: “culpa”, “consciência”, “dever”, “ sacralidade do dever”[...]” (p.50).
Ver o filosofo comentar tais condições, aprimora-se a diferenciação profunda do homem e humano e a uma preservação da vida gerando-lhe conforto um tipo superior de homem e o estabelecimento das condições para a sua produção e, por outro, o produto da autodiminuição do homem e as estratégias para a sua proliferação.





3. SUPERIOR ENTENDIDO COMO SUBJULGAR

Dentro do RDE ( Registro Disciplinar do Exercito) concentra um serie de regras, direito e deveres que tanto praças e oficias seguem, ainda contém as necessidades para a obtenção da promoção, os valores da pena e das relações com outras forças. Visto tais coisas inserisse nessa ideia que as ordens precedem de uma determinação anterior a aquela já colocada.
As normas para bom comportamento são alcançadas mediantes esforço e sacrifícios, afinal dentro desta estrutura militar o rigor técnico é exigido mais que o pratico, por sua vez aprendemos o espirito de vingança encontra seu uso enquanto verdade dessas relações, Isto de certa forma organizam toda a estrutura., no enteando o reigos pratico volta a ser utilizado pela norma sócias.
Aquele que foi aprisionado, subjugado, após seu encontro com a vontade de poder opera na logica de igualar-se posicionalmente a sua figura de poder mais importante, em outras palavras nasce do individuo fazer novamente as atividades que fez de maneira opressiva sobre outros. Tendo em vista as relações dos praças com oficias percebemos que o desejo do praça e torna-se oficial, por isso seu discurso apresenta-se sempre como apelativo diante de seus pares. Aqui a classe de guerreiros se destaca em meio aos oficias obtendo suas virtudes pelo corpo.
O praça necessita subjugar para poder sentir-se útil em meio ao oficial, embora o oficial necessite estar em estrema condição de sobrevivência, pois o mesmo é o referencial do praça. Sempre o oficial opera na vontade de Senhor e responsável por suas ações , assim o oficial ver seu subordinado enquanto algo do passado ou nunca vivido, isto que difere do praça que almeja vontade de ser oficial.
A moral de rebanho encontra intimamente na condição de soldado recruta para soldado antigo; aqui os pares se diferem dentro de um mesmo espaço e o soldado antigo ( EP- Efetivo Profissional) transfere toda sua raiva para seu par, mais moderno, entretanto de mesma patente; o seu espírito de vingança obtido pela subjugação de seu superior, neste caso principalmente o Aspirante-Oficial, 2ª e 1ª Tenente e o Capitão, estes se comportam como a personificação dos valores.







4. CONCLUSÃO

Nietzsche não só demonstra um gênio perturbado com as relações dos homens, mas também nos perturba, levando-nos a questionar os laços relacionais que todos temos. Se o recém chegado dos cursos de armas da AMAN chega em qualquer CRM – Centro de região militar, ele opera enquanto espiro de vingança, fazendo sua opressão transforma-se em metodologia de trabalho.
Ao contrario do soldado que desloca unicamente seu espírito de vingança a outro soldado nunca ao oficial. Assim Nietzsche se depara com a intrínseca relação da precedência dos valores e seu deslocamento para as ações do homem.


















REFERÊNCIAS

NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm, Genealogia da moral: uma polêmica. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
REGULAMENTO DISCIPLINAR DO EXÉRCITO - R-4 - MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO GABINETE DO COMANDANTE



quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Arte enquanto virtude para a verdade: análise do Livro VI de Ética a Nicômacos



1. INTRODUÇÃO


O objetivo deste trabalho é apresentar uma das disposições em virtude das quais a alma possui verdade, neste caso: a arte. O aprimoramento do conhecimento desta virtude se encontra no Livro VI de Ética a Nicomacos. Para tal busquemos apresentar alguns detalhes referentes a isto que compõe o nosso objetivo.
A obra foi escrito por Aristóteles e dedicado ao seu pai chamado Nicômaco. Essa obra é composta por dez livros, no qual Aristóteles assume o papel de um pai preocupado com a educação e a felicidade de seu filho, mas não somente isso, mas também a intenção de fazer com que as pessoas reflitam sobre as suas ações e coloque a razão acima das paixões, buscando a felicidade individual e coletiva, pois o ser humano é um ser social e suas práticas devem visar o bem comum.
E, sobre este bem comum analisaremos a virtude que consta na classe das coisas variáveis reconhecendo a diferenciação do agir e o produzir. A qual Aristóteles desloca totalmente o sentido de produzir para a arte.







2. ARTE ENQUANTO DISPOSIÇÃO DE VIRTUDE


Segundo Aristóteles, são cinco as virtudes pelas quais a alma possui a verdade: a arte, o conhecimento científico, a sabedoria prática, a sabedoria filosófica e a intuição ou razão intuitiva. A questão colocada no texto “Ética a Nicômaco”, livro VI é, na verdade, a finalidade real da sabedoria prática e da sabedoria filosófica, sendo a primeira de ordem deliberativa e a segunda, segundo Aristóteles, de ordem de conhecimento cientifica juntamente com a razão intuitiva daquelas coisas mais elevadas por natureza. Além destas, existe a sabedoria política a qual se identifica com a sabedoria prática na disposição mental, mas em sua essência não é a mesma, e também a arte.
De acordo com Aristóteles, na Ética a Nicômaco, "a arte é uma disposição que se ocupa de produzir, envolvendo o reto raciocínio; e a carência de arte, pelo contrário, é tal disposição acompanhada de falso raciocínio". Em outras palavras, para Aristóteles, a arte é a capacidade de produzir, utilizando um conhecimento sobre a maneira de se fazer às coisas, mas não se remete ao agir. Seria uma ciência como um conhecimento demonstrativo do necessário e do eterno, podendo ser ensinado ou demonstrado pela indução. Toda arte é relacionada com a criação, invenção, no estudo das maneiras desta produção, de coisas que existem ou ainda não. Diz Aristóteles que “a arte e o acaso visam sobre os mesmos objetos”.
Assim, a arte comportaria um elemento e a capacidade de produzir em quem produz levando ao ser de virtude uma iluminação constante para a alma, insubstituível para o homem ao se descobrir a verdade.






3. AGIR DIFERE DE PRODUZIR


A arte relaciona-se a criação e a criação a arte, desta forma Aristóteles aborta o gênero artístico de virtude em sua intimidade extrema de “criar”, visto que criar é atribuído a um saber de sabedoria, pois a sabedoria dentro das artes é sempre atribuída aos seus expoentes, com isso o sábio, aquele artista de referencia possui o conhecimento necessário para a criação, assim o mesmo opera na dinâmica da virtude em sua verdade com a alma levando em consideração o desejo de produzir sua obra artística.

“Visto que a arquitetura é uma arte, sendo essencialmente uma capacidade de produzir, e não há arte alguma que não seja uma capacidade dessa espécie que não seja uma arte, a arte é idêntica a uma capacidade de produzir, envolvendo o reto raciocínio”.







Sobre esta comparação insere-se que toda arte ocupa-se a inventar e a analisar as inúmeras maneiras de produzir qualquer coisa se encontre no âmbito da virtude, por sua vez o agir não é um produzir, este apenas reage de acordo com sua natureza. O agir pelo agir não amplia a dimensão natural e a necessária da condição humana, uma projeção da alma que possibilita a verdade. Aristóteles ainda distingue mais detalhadamente o agir como objeto e o produzir enquanto contemplação, e a virtude moral, que tem como objeto os atos da vida prática. Enquanto que a virtude intelectual requer experiência e tempo para desenvolver-se, pois vem, via de regra, através do ensino, a virtude moral é adquirida pelo hábito.
Diferentemente dos sentidos que já estão presentes em nós desde o início, isto é, os possuímos antes de usá-los, as virtudes são adquiridas pelo exercício. Por fim o agir diferencia-se do produzir através da arte na tentativa de dialogar com as coisas que se mantem nas artes.













4.CONCLUSÃO

A arte é, portanto ação, atividade de criar e não de agir, e aquele que em sua alma possui verdade é aquele que produz, num produzir dentro de um projeto concreto, individual, pois não se pode produzir de maneira abstrata.
Em sua forma de compreensão Aristóteles aprimora o produzir da arte através de sua excelência, esta pela qual é encontrada em uma sabedoria perfeita com seu sentido único e particular da virtude.







REFERÊNCIAS

ARISTÓTELES. Ética a Nicômacos. 4 ed. Brasília: UnB, 2001.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Desafios da personagem – 1ª PARTE

Durante ano de 2012 acordava todos os dias às 05h30min da manhã em ponto, me direcionava para o quartel, já levantava com o desejo incontrolável que o dia terminasse. Casado do tédio de viver em um ambiente onde não há sensibilidade da alma e o sentimento de patriotismo não passa de um grande ensaio, envolvido pelo stress, e tendo que tomar remédio para a depressão nada mais me fazia ter alegria a não ser o teatro, no entanto uma coisa me chamava atenção. Era uma frase que lia todos os dias na frente do alojamento: A Vida não é fácil, está frase ecoava sobre meus pensamentos em forma de uma tonelada, talvez porque outrora, quando mais moço, já sabia na pele o sentido real desta frase, e sempre no caminho de volta para casa era o momento de parafrasear a frase: O TEATRO NÃO É FÁCIL!!!!!!, E muito mais... A PERSONAGEM NÃO É FÁCIL, aqueles que se dizem atores, que se dizem fazerem parte de uma Cia, não compreendem a dimensão desta frase. Não é fácil depois de uma semana no mato aprendendo técnicas que no fundo nunca dariam certo, passar três dias sem dormir e no final ainda ter mais 40% de sua energia vital e transforma-lá em 1000% para a personagem. É deste teatro que falo diante das dificuldades com intuito de converte-lás em ferramentas para se viver unicamente a cada apresentação com sua personagem (seu outro eu). Além do mais, quando este personagem não existe, habita em um não-lugar, em uma não-existência, e exige um esforço psíquico maior de atuação, a partir de então o ator, que já detém experiência de bailarino, domínio do corpo, prática de atividades físicas a qual foram ferramentas e meios para a caveira que muitos já assistiram, percebe que lhe falta um complemento da técnica, leitura e prática; sendo só na prática que se tem o domínio, talvez se depois da primeira apresentação de “Um dedo por um dente”, Eu , Igor e Nuno tivéssemos enterrado nossa obra, como fazem alguns artistas da cena maranhense, não estaríamos hoje com um desejo e a ganância em prol de um teatro que nos preencha. Tenho ainda certeza mediante os erros e acertos que faríamos tudo de novo; carregar o cenário pelos mesmos locais... apresentar para quase ninguém... para uma multidão... Enfrentarímos os mesmos desafios, pois isto torna um investimento a longo prazo. E o exército? E a hérnia? E as perdas? Estes foram empecilhos que não nos desanimaram, por sua vez um dia o público apareceu e a personagem não estava lá, no entanto o Torquato e Procópio não se abateram. Um dedo por um dente, além de espetáculo, é um carimbo de amizade compartilhando da glória e da derrota e também uma escola para aprender a como se fazer teatro e enfrentar os desafios que a personagem coloca ao ator....

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

NIETZSCHE E DOSTOIÉVSKI: considerações sobre a dimensão apocalíptica do homem em Memórias do subsolo

Luís Augusto Ferreira Saraiva Resumo O presente artigo tem por objetivo relacionar o homem paradoxo encontrado em Memórias do subsolo de Fiódor Dostoiévski com a real condição do homem extraído da Genealogia da moral de Friedrich Nietzche. Palavra- chave: Nietzsche. Dostoiéski. Memórias do subsolo. Genealogia da moral Résumé: Le present article vise à relier le paradoxe homme dans les Notes de souterrain del Fiodor Dostoïevski avec la condition réelle de l'homme extrait de la Généalogie de la morale de Friedrich Nietzsche. Mot-clé : Nietzsche. Dostoiéski. Memórias do subsolo. Genealogia da moral 1. INTRODUÇÃO Escrito na cabeceira de morte de sua primeira mulher, numa situação de aguda necessidade finaceira, Memórias do subsolo condensa um dos momentos importantes da literatura mundial, reunindo vários temas que reaparecerão mais tarde nos últimos grandes romances do escritor russo, fazendo do autor o precurssor da melhor prosa modernista, criando uma nova perpectiva para a literatura a qual esta narrativa lança questionamentos sobre a natureza humana. Aqui, quando emerge o funcionário público doente dos rins aparece o diálogo com a filosofia Nietzcheana que detecta alguns pontos das origens dos valores morais. O filosofo ressalta a inversão sofrida dos valores pelas influências que se prendem com força aprofundando-se, justamente, no estudo da palavra bom e, consequentemente, da palavra mau. E Dostoievski inicia sua obra dizendo: “Sou um homem doente... um homem mau”. 2. A VOZ DO HOMEM DO SUBSOLO "Memórias do Subsolo" é um romance irreverente e, subjetivamente, esdrúxulo de Fiódor Dostoiévski. Trata-se das lembranças de um trabalhador russo civil, aposentado, que reside no subsolo de um edifício em São Petersburgo, Rússia, de 40 anos de idade, do qual declara que seja praticamente toda a vida. “Já faz muito tempo que vivo assim: uns vinte anos. Tenho quarenta, agora. Já estive empregado, atualmente não. Fui um funcionário maldoso, grosseiro, e encontrava prazer nisso. Não aceitava gratificações; no entanto, devia premiar-me ao menos desse modo [...]” . O livro divide-se em duas partes, cada qual intitulada de "O Subsolo" e "A Propósito da neve molhada" e há também algumas páginas de introdução procedidas pelo tradutor Bóris S. No decorrer do livro, ele se apresenta bastante ácido, raivoso, petulante, amargo. O personagem e ao mesmo tempo narrador mostra-se muito deprimido, desencantado, depressivo, com baixa autoestima, embora, peculiarmente, não pareça. É teimoso, e não se importa com os sentimentos alheios. Vive só, "em um buraco", como ele mesmo descreve, com seu empregado. Dostoiévski demonstra a personalidade, em certos trechos, do personagem, mas nunca menciona seu nome, embora seja reconhecido como o "Homem Subterrâneo". Na primeira parte, Fiódor explana e teoriza os ideais do personagem. Apresenta e os descreve, quase que como num diálogo entre leitor e narrador, pois em vários momentos, o "Homem Subterrâneo" tenta, e por vezes consegue, deduzir quais são as opiniões do leitor, comentários, ideias, pensamentos. Ele, basicamente, descreve nosso personagem, seus tempos no trabalho, suas doenças, misticismos, suas filosofias, seu estranho gosto pela maldade, ruindade, mas que ao mesmo tempo o atormentam. O "Homem Subterrâneo" tem certa gana por detestar e embotar tudo, é o típico pessimista. Por vezes ele fica até indeciso, perante sua condição. Atormenta-se por ser o que é ao extremo de impedi-lo de dormir. Somente na segunda parte, é que surgem as memórias, a história em si, propriamente dita. Onde há os personagens, os fatos, e as ações sequenciais dos mesmos. Os episódios que o personagem/narrador conta nada mais são do que fatos de sua vida, passagens de sua triste existência, que necessitam ser transpassados ao papel, pois de tanto o remoer, precisa livrar-se delas, numa forma estranha de alívio. E somente por isso é que os coloca no papel. Nuances de sua infância a sua própria rotina é apresentada ao leitor. Particularmente, ele teima em ser mau, mas sabe que no íntimo não é, e de certo modo isto o incomoda, pois ele tenta "modificar" suas atitudes mais corriqueiras, mas não o faz com sucesso e logo retroage, o "Homem Subterrâneo" chega a ser irônico. 3. OS VALORES SEGUNDO NIETZSCHE Ao se questionar a cerca da origem do bem e do mal Nietzsche escreve a genealogia da moral com o intuito de elaborar uma crítica ao elemento de afirmação pelo qual se move o pensamento apresentando um início diferenciado, que vai além de afirmar a perda de um referencial, Deus, mas que chega até a afirmação de uma diferença que se origina nas forças ativas e nas forças reativas. Duas aplicações para que a Moral tenha se originado por aquilo que é útil, as ações altruístas foram louvadas e reputadas boas por aqueles a quem eram úteis. Entretanto, a origem de tais ações acaba por ser esquecida, adquirindo ações altruístas através do costume da linguagem, como se as coisas fossem boas em si mesmas. Essa é a segunda aplicação. Para Nietzsche não há nada que seja bom em si mesmo. O conceito de ‘bom’ se dá por aqueles que, através de uma prática, consideraram determinada ação como boa. É contra esse utilitarismo que Nietzsche luta. O utilitarismo não entra em sua moral. “[...], que estabelece um conceito “bom” como essencialmente igual a “útil”, “conveniente”, de modo que nos conceitos “bom” e “ruim” a humanidade teria sumariado e sancionado justamente as suas experiências inesquecidas e inesquecíveis acerca do útil-conveniente e do nocivo-inconveniente”. Toda essa conceptualização do ‘bom’ e do ‘mau’, originada na antítese da divisão das classes sociais, nasce, justamente, do pensamento de que o homem é um ser dominante. Isso está inteiramente intrínseco em seus instintos. No instinto de dominação é que a genealogia da moral encontrou sua real expressão. Os valores que o filosofo propõem aparecem criticamente na obra do escrito russo, viver em meio ao subsolo representa o reflexo do homem naquilo que a história o deixou de herança a crueldade segundo Nietzsche fala: “[...], a crescente espiritualização e “divinização” da crueldade, atravessa toda a história da cultura superior (e até mesmo a construir, num sentido significativo).” (NIETZSCHE. p. 51). Assim, concretiza-se o perfil do homem subterrâneo vitima das suas condições existências e possuidor de um comportamento relativo ao espirito de vingança em uma atitude maquinal de usar o próprio corpo como fuga das regras da sociedade moderna. 4. A MORAL DO SUBSOLO Agora investigaremos mais a fundo a relação desses dois autores, visto que aqui não se trata de um sistema abstrato, como se esperaria de um artista. A obra de Dostoievski, além de artística, é perpassada por uma intuição intelectual, por um senso filosófico genial. Sua obra, podemos dizer, é uma ciência do espírito. Espirito este que vem assessorar o sentimento de escravo e a condição servil juntamente com a negação do prazer e o afastamento da condição corporal. “No senhor há verdade, mas não há pureza; por motivo da mais mesquinha vaidade, traz a sua verdade a mostra, conduzindo-a para a ignomía, para a feira... Realmente quer dizer algo, no entanto, por temor, oculta sua palavra derradeira, porque não tem suficiente decisão para dizê-la [...]”. (DOSTOIÉVSKI. p.52) Acima, vimos que no subsolo existe uma condição servil de um homem mal a qual a pureza inexistente e decorrente de uma aceitação da humilhação da moral de escravo, uma espécie de desconforto que reflete à partir de uma destruição do homem pelo homem, desta forma a intensificação da vida começa a não mais caber dentro de uma lógica de sensibilidade e sim em um ângulo de sobrevivência afastando-se de todos para que a ideia de bem/ mal seja universal e preencha todo o subsolo. Tudo isso explica porque o homem só consegue pensar em relação ao pensamento de outros. O bom é aquilo que o homem achou útil para si, vindo do outro. A utilidade mesquinha, a referência a outros para pensar e agir torna-se, para Nietzsche, uma origem marcada de uma inércia duvidosa e de um hábito sem graça. Isso somente distancia o homem daquilo que é realmente autêntico. Por isso encontramos uma relação ainda maior com a mentalidade do narrador-personagem e o seu discurso alucinado, sua veemência desordenada, o fluxo continuo de sua fala para justificar a sua vida intima dentro do Subsolo. 5. CONCLUSÃO Com sua obra, Nietzsche não só demonstra um gênio perturbado com as relações dos homens, mas também nos perturba, levando-nos a questionar os laços relacionais que todos temos. Dostoiévski concebe a inversão dessa máquina apresentado o homem já perturbado e longe de salvação, o corpo encontrado em Nietzsche comporta-se como habitação para as memórias, que nada tem de antigas, de Dostoiévski apresentando uma ética no campo do bem e do mal fundamental e decisiva procurando mostrar o mal com o mal como forma de se chegar em um bem maior. Na minha concepção ao ler tais obras existe uma possibilidade de consciência que permeia o âmbito das relações entre os homens, àquilo que é mal ou aquilo que é bom, não chega perto daquilo propriamente dito é mal e é bom, só assim corpo daquele que vive no subsolo pode permanecer em uma condição de realidade. Essa condição apocalíptica do homem que aparece em memórias do subsolo julga não um fim, mas um início especial da moral. REFERÊNCIAS DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Memórias do Subsolo. São Paulo: Editora 34, 2000. NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Genealogia da moral: uma polêmica. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.