Resumo
O referente trabalho busca apresentar uma leitura das relações existentes entre superiores e subordinados dentro da estrutura de patentes militares ao ponto da perspectiva Nietzscheana, pelo qual se observa a vontade de poder encontrada nos praças em relação aos oficias. Consequentemente esta relação alimenta-se de um desejo de ressentimento por parte dos praças, onde este cria uma condição de sentir-se superior quando elevado de patente para subjugar seus futuros subordinados.
Palavra-chave: Nietzsche. Militarismo. Poder. Exército Brasileiro.
1. INTRODUÇÃO
Caserna é a maneira carinhosa dos quais os militares rotineiramente chamam o ambiente do quartel, das escolas militares (EsSa – Escola de Sargento das Armas), das academias; neste caso a AMAN (Academia Militar das Agulhas Negras), dos centros de formação ( NPOR / CPOR – Núcleo/ Centro de Preparação de Oficias da Reserva). Desta forma esta palavra desloca nossos sentidos para uma habitação controladora de processos e de comportamentos não havendo possibilidade de discordâncias, novas ideias ou até mesmo em casos mais extremos algumas melhorias.
Assim, o militar formado ou como se costuma dizer o militar adestrado gera em seu espirito uma vontade de poder, a qual é realizada no momento de transição de seu estado de subordinado para superior e até mesmo a elevação moral por dentre seus pares.
2. O ESPIRITO DE VINGANÇA
O ressentimento de escravo para a condição servil colocado por Nietzsche em sua genealogia da moral provém de uma moral ocidental a qual o próprio filósofo refere-se ao judaísmo, que por sua vez apresenta-se enquanto um servo fiel cumplice da dor, está dor que levaria a purificação e um afastamento do prazer por meio de sua condição corporal dando importância extrema ao espirito.
“[...] não se castigou porque se responsabilizava o delinquente por seu ato, ou seja, não pelo pressuposto de que apenas o culpado devia ser castigado – e sim como ainda hoje seus pais castigam seus filhos, por raiva devida a um dano sofrido, raiva que se desafoga em que o causou; mas mantida em certos limites, e modificada pela ideia de que qualquer dano encontra em seu equivalente e pode ser realmente compensado, mesmo que seja com a dor do seu causador.” (NIETZSCHE, 2009, p. 48).
Desta maneira, Nietzsche elabora uma crítica ao elemento de afirmação pelo qual se move o pensamento da condição servil abrindo espaço para que as estruturas do espirito de vingança dialoguem inteiramente com o afastamento do prazer. Esta dor impulsionaria a um apelo de misericórdia existente no deslocamento da condição de escravo até a condição servil, neste âmbito o que vale é realmente poder concretizar a determinada vontade de poder, visto que a classe de sacerdotes mobiliza os escravos contra os guerreiros obtendo mais uma vez o espirito de ressentimento a qual se encontra os valores naturais e nobres.
Neste conceito compreendemos que o espirito de vingança comporta-se na autoridade de manifestar as condições de bom/mau e bem/ruim leva o homem do pensamento de Nietzsche para uma condição contingente e universal, tendo por base que estas condições em uma destruição do homem pelo homem. “Nesta esfera, a das obrigações legais, está o foco de origem desse mundo de conceitos morais: “culpa”, “consciência”, “dever”, “ sacralidade do dever”[...]” (p.50).
Ver o filosofo comentar tais condições, aprimora-se a diferenciação profunda do homem e humano e a uma preservação da vida gerando-lhe conforto um tipo superior de homem e o estabelecimento das condições para a sua produção e, por outro, o produto da autodiminuição do homem e as estratégias para a sua proliferação.
3. SUPERIOR ENTENDIDO COMO SUBJULGAR
Dentro do RDE ( Registro Disciplinar do Exercito) concentra um serie de regras, direito e deveres que tanto praças e oficias seguem, ainda contém as necessidades para a obtenção da promoção, os valores da pena e das relações com outras forças. Visto tais coisas inserisse nessa ideia que as ordens precedem de uma determinação anterior a aquela já colocada.
As normas para bom comportamento são alcançadas mediantes esforço e sacrifícios, afinal dentro desta estrutura militar o rigor técnico é exigido mais que o pratico, por sua vez aprendemos o espirito de vingança encontra seu uso enquanto verdade dessas relações, Isto de certa forma organizam toda a estrutura., no enteando o reigos pratico volta a ser utilizado pela norma sócias.
Aquele que foi aprisionado, subjugado, após seu encontro com a vontade de poder opera na logica de igualar-se posicionalmente a sua figura de poder mais importante, em outras palavras nasce do individuo fazer novamente as atividades que fez de maneira opressiva sobre outros. Tendo em vista as relações dos praças com oficias percebemos que o desejo do praça e torna-se oficial, por isso seu discurso apresenta-se sempre como apelativo diante de seus pares. Aqui a classe de guerreiros se destaca em meio aos oficias obtendo suas virtudes pelo corpo.
O praça necessita subjugar para poder sentir-se útil em meio ao oficial, embora o oficial necessite estar em estrema condição de sobrevivência, pois o mesmo é o referencial do praça. Sempre o oficial opera na vontade de Senhor e responsável por suas ações , assim o oficial ver seu subordinado enquanto algo do passado ou nunca vivido, isto que difere do praça que almeja vontade de ser oficial.
A moral de rebanho encontra intimamente na condição de soldado recruta para soldado antigo; aqui os pares se diferem dentro de um mesmo espaço e o soldado antigo ( EP- Efetivo Profissional) transfere toda sua raiva para seu par, mais moderno, entretanto de mesma patente; o seu espírito de vingança obtido pela subjugação de seu superior, neste caso principalmente o Aspirante-Oficial, 2ª e 1ª Tenente e o Capitão, estes se comportam como a personificação dos valores.
4. CONCLUSÃO
Nietzsche não só demonstra um gênio perturbado com as relações dos homens, mas também nos perturba, levando-nos a questionar os laços relacionais que todos temos. Se o recém chegado dos cursos de armas da AMAN chega em qualquer CRM – Centro de região militar, ele opera enquanto espiro de vingança, fazendo sua opressão transforma-se em metodologia de trabalho.
Ao contrario do soldado que desloca unicamente seu espírito de vingança a outro soldado nunca ao oficial. Assim Nietzsche se depara com a intrínseca relação da precedência dos valores e seu deslocamento para as ações do homem.
REFERÊNCIAS
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm, Genealogia da moral: uma polêmica. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
REGULAMENTO DISCIPLINAR DO EXÉRCITO - R-4 - MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO GABINETE DO COMANDANTE
quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
Arte enquanto virtude para a verdade: análise do Livro VI de Ética a Nicômacos
1. INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é apresentar uma das disposições em virtude das quais a alma possui verdade, neste caso: a arte. O aprimoramento do conhecimento desta virtude se encontra no Livro VI de Ética a Nicomacos. Para tal busquemos apresentar alguns detalhes referentes a isto que compõe o nosso objetivo.
A obra foi escrito por Aristóteles e dedicado ao seu pai chamado Nicômaco. Essa obra é composta por dez livros, no qual Aristóteles assume o papel de um pai preocupado com a educação e a felicidade de seu filho, mas não somente isso, mas também a intenção de fazer com que as pessoas reflitam sobre as suas ações e coloque a razão acima das paixões, buscando a felicidade individual e coletiva, pois o ser humano é um ser social e suas práticas devem visar o bem comum.
E, sobre este bem comum analisaremos a virtude que consta na classe das coisas variáveis reconhecendo a diferenciação do agir e o produzir. A qual Aristóteles desloca totalmente o sentido de produzir para a arte.
2. ARTE ENQUANTO DISPOSIÇÃO DE VIRTUDE
Segundo Aristóteles, são cinco as virtudes pelas quais a alma possui a verdade: a arte, o conhecimento científico, a sabedoria prática, a sabedoria filosófica e a intuição ou razão intuitiva. A questão colocada no texto “Ética a Nicômaco”, livro VI é, na verdade, a finalidade real da sabedoria prática e da sabedoria filosófica, sendo a primeira de ordem deliberativa e a segunda, segundo Aristóteles, de ordem de conhecimento cientifica juntamente com a razão intuitiva daquelas coisas mais elevadas por natureza. Além destas, existe a sabedoria política a qual se identifica com a sabedoria prática na disposição mental, mas em sua essência não é a mesma, e também a arte.
De acordo com Aristóteles, na Ética a Nicômaco, "a arte é uma disposição que se ocupa de produzir, envolvendo o reto raciocínio; e a carência de arte, pelo contrário, é tal disposição acompanhada de falso raciocínio". Em outras palavras, para Aristóteles, a arte é a capacidade de produzir, utilizando um conhecimento sobre a maneira de se fazer às coisas, mas não se remete ao agir. Seria uma ciência como um conhecimento demonstrativo do necessário e do eterno, podendo ser ensinado ou demonstrado pela indução. Toda arte é relacionada com a criação, invenção, no estudo das maneiras desta produção, de coisas que existem ou ainda não. Diz Aristóteles que “a arte e o acaso visam sobre os mesmos objetos”.
Assim, a arte comportaria um elemento e a capacidade de produzir em quem produz levando ao ser de virtude uma iluminação constante para a alma, insubstituível para o homem ao se descobrir a verdade.
3. AGIR DIFERE DE PRODUZIR
A arte relaciona-se a criação e a criação a arte, desta forma Aristóteles aborta o gênero artístico de virtude em sua intimidade extrema de “criar”, visto que criar é atribuído a um saber de sabedoria, pois a sabedoria dentro das artes é sempre atribuída aos seus expoentes, com isso o sábio, aquele artista de referencia possui o conhecimento necessário para a criação, assim o mesmo opera na dinâmica da virtude em sua verdade com a alma levando em consideração o desejo de produzir sua obra artística.
“Visto que a arquitetura é uma arte, sendo essencialmente uma capacidade de produzir, e não há arte alguma que não seja uma capacidade dessa espécie que não seja uma arte, a arte é idêntica a uma capacidade de produzir, envolvendo o reto raciocínio”.
Sobre esta comparação insere-se que toda arte ocupa-se a inventar e a analisar as inúmeras maneiras de produzir qualquer coisa se encontre no âmbito da virtude, por sua vez o agir não é um produzir, este apenas reage de acordo com sua natureza. O agir pelo agir não amplia a dimensão natural e a necessária da condição humana, uma projeção da alma que possibilita a verdade. Aristóteles ainda distingue mais detalhadamente o agir como objeto e o produzir enquanto contemplação, e a virtude moral, que tem como objeto os atos da vida prática. Enquanto que a virtude intelectual requer experiência e tempo para desenvolver-se, pois vem, via de regra, através do ensino, a virtude moral é adquirida pelo hábito.
Diferentemente dos sentidos que já estão presentes em nós desde o início, isto é, os possuímos antes de usá-los, as virtudes são adquiridas pelo exercício. Por fim o agir diferencia-se do produzir através da arte na tentativa de dialogar com as coisas que se mantem nas artes.
4.CONCLUSÃO
A arte é, portanto ação, atividade de criar e não de agir, e aquele que em sua alma possui verdade é aquele que produz, num produzir dentro de um projeto concreto, individual, pois não se pode produzir de maneira abstrata.
Em sua forma de compreensão Aristóteles aprimora o produzir da arte através de sua excelência, esta pela qual é encontrada em uma sabedoria perfeita com seu sentido único e particular da virtude.
REFERÊNCIAS
ARISTÓTELES. Ética a Nicômacos. 4 ed. Brasília: UnB, 2001.
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
Desafios da personagem – 1ª PARTE
Durante ano de 2012 acordava todos os dias às 05h30min da manhã em ponto, me direcionava para o quartel, já levantava com o desejo incontrolável que o dia terminasse. Casado do tédio de viver em um ambiente onde não há sensibilidade da alma e o sentimento de patriotismo não passa de um grande ensaio, envolvido pelo stress, e tendo que tomar remédio para a depressão nada mais me fazia ter alegria a não ser o teatro, no entanto uma coisa me chamava atenção. Era uma frase que lia todos os dias na frente do alojamento: A Vida não é fácil, está frase ecoava sobre meus pensamentos em forma de uma tonelada, talvez porque outrora, quando mais moço, já sabia na pele o sentido real desta frase, e sempre no caminho de volta para casa era o momento de parafrasear a frase: O TEATRO NÃO É FÁCIL!!!!!!, E muito mais... A PERSONAGEM NÃO É FÁCIL, aqueles que se dizem atores, que se dizem fazerem parte de uma Cia, não compreendem a dimensão desta frase. Não é fácil depois de uma semana no mato aprendendo técnicas que no fundo nunca dariam certo, passar três dias sem dormir e no final ainda ter mais 40% de sua energia vital e transforma-lá em 1000% para a personagem. É deste teatro que falo diante das dificuldades com intuito de converte-lás em ferramentas para se viver unicamente a cada apresentação com sua personagem (seu outro eu). Além do mais, quando este personagem não existe, habita em um não-lugar, em uma não-existência, e exige um esforço psíquico maior de atuação, a partir de então o ator, que já detém experiência de bailarino, domínio do corpo, prática de atividades físicas a qual foram ferramentas e meios para a caveira que muitos já assistiram, percebe que lhe falta um complemento da técnica, leitura e prática; sendo só na prática que se tem o domínio, talvez se depois da primeira apresentação de “Um dedo por um dente”, Eu , Igor e Nuno tivéssemos enterrado nossa obra, como fazem alguns artistas da cena maranhense, não estaríamos hoje com um desejo e a ganância em prol de um teatro que nos preencha. Tenho ainda certeza mediante os erros e acertos que faríamos tudo de novo; carregar o cenário pelos mesmos locais... apresentar para quase ninguém... para uma multidão... Enfrentarímos os mesmos desafios, pois isto torna um investimento a longo prazo. E o exército? E a hérnia? E as perdas? Estes foram empecilhos que não nos desanimaram, por sua vez um dia o público apareceu e a personagem não estava lá, no entanto o Torquato e Procópio não se abateram. Um dedo por um dente, além de espetáculo, é um carimbo de amizade compartilhando da glória e da derrota e também uma escola para aprender a como se fazer teatro e enfrentar os desafios que a personagem coloca ao ator....
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
NIETZSCHE E DOSTOIÉVSKI: considerações sobre a dimensão apocalíptica do homem em Memórias do subsolo
Luís Augusto Ferreira Saraiva
Resumo
O presente artigo tem por objetivo relacionar o homem paradoxo encontrado em Memórias do subsolo de Fiódor Dostoiévski com a real condição do homem extraído da Genealogia da moral de Friedrich Nietzche.
Palavra- chave: Nietzsche. Dostoiéski. Memórias do subsolo. Genealogia da moral
Résumé:
Le present article vise à relier le paradoxe homme dans les Notes de souterrain del Fiodor Dostoïevski avec la condition réelle de l'homme extrait de la Généalogie de la morale de Friedrich Nietzsche.
Mot-clé : Nietzsche. Dostoiéski. Memórias do subsolo. Genealogia da moral
1. INTRODUÇÃO
Escrito na cabeceira de morte de sua primeira mulher, numa situação de aguda necessidade finaceira, Memórias do subsolo condensa um dos momentos importantes da literatura mundial, reunindo vários temas que reaparecerão mais tarde nos últimos grandes romances do escritor russo, fazendo do autor o precurssor da melhor prosa modernista, criando uma nova perpectiva para a literatura a qual esta narrativa lança questionamentos sobre a natureza humana. Aqui, quando emerge o funcionário público doente dos rins aparece o diálogo com a filosofia Nietzcheana que detecta alguns pontos das origens dos valores morais.
O filosofo ressalta a inversão sofrida dos valores pelas influências que se prendem com força aprofundando-se, justamente, no estudo da palavra bom e, consequentemente, da palavra mau. E Dostoievski inicia sua obra dizendo: “Sou um homem doente... um homem mau”.
2. A VOZ DO HOMEM DO SUBSOLO
"Memórias do Subsolo" é um romance irreverente e, subjetivamente, esdrúxulo de Fiódor Dostoiévski. Trata-se das lembranças de um trabalhador russo civil, aposentado, que reside no subsolo de um edifício em São Petersburgo, Rússia, de 40 anos de idade, do qual declara que seja praticamente toda a vida.
“Já faz muito tempo que vivo assim: uns vinte anos. Tenho quarenta, agora. Já estive empregado, atualmente não. Fui um funcionário maldoso, grosseiro, e encontrava prazer nisso. Não aceitava gratificações; no entanto, devia premiar-me ao menos desse modo [...]” .
O livro divide-se em duas partes, cada qual intitulada de "O Subsolo" e "A Propósito da neve molhada" e há também algumas páginas de introdução procedidas pelo tradutor Bóris S. No decorrer do livro, ele se apresenta bastante ácido, raivoso, petulante, amargo. O personagem e ao mesmo tempo narrador mostra-se muito deprimido, desencantado, depressivo, com baixa autoestima, embora, peculiarmente, não pareça. É teimoso, e não se importa com os sentimentos alheios. Vive só, "em um buraco", como ele mesmo descreve, com seu empregado. Dostoiévski demonstra a personalidade, em certos trechos, do personagem, mas nunca menciona seu nome, embora seja reconhecido como o "Homem Subterrâneo". Na primeira parte, Fiódor explana e teoriza os ideais do personagem. Apresenta e os descreve, quase que como num diálogo entre leitor e narrador, pois em vários momentos, o "Homem Subterrâneo" tenta, e por vezes consegue, deduzir quais são as opiniões do leitor, comentários, ideias, pensamentos. Ele, basicamente, descreve nosso personagem, seus tempos no trabalho, suas doenças, misticismos, suas filosofias, seu estranho gosto pela maldade, ruindade, mas que ao mesmo tempo o atormentam.
O "Homem Subterrâneo" tem certa gana por detestar e embotar tudo, é o típico pessimista. Por vezes ele fica até indeciso, perante sua condição. Atormenta-se por ser o que é ao extremo de impedi-lo de dormir. Somente na segunda parte, é que surgem as memórias, a história em si, propriamente dita. Onde há os personagens, os fatos, e as ações sequenciais dos mesmos. Os episódios que o personagem/narrador conta nada mais são do que fatos de sua vida, passagens de sua triste existência, que necessitam ser transpassados ao papel, pois de tanto o remoer, precisa livrar-se delas, numa forma estranha de alívio. E somente por isso é que os coloca no papel. Nuances de sua infância a sua própria rotina é apresentada ao leitor. Particularmente, ele teima em ser mau, mas sabe que no íntimo não é, e de certo modo isto o incomoda, pois ele tenta "modificar" suas atitudes mais corriqueiras, mas não o faz com sucesso e logo retroage, o "Homem Subterrâneo" chega a ser irônico.
3. OS VALORES SEGUNDO NIETZSCHE
Ao se questionar a cerca da origem do bem e do mal Nietzsche escreve a genealogia da moral com o intuito de elaborar uma crítica ao elemento de afirmação pelo qual se move o pensamento apresentando um início diferenciado, que vai além de afirmar a perda de um referencial, Deus, mas que chega até a afirmação de uma diferença que se origina nas forças ativas e nas forças reativas.
Duas aplicações para que a Moral tenha se originado por aquilo que é útil, as ações altruístas foram louvadas e reputadas boas por aqueles a quem eram úteis. Entretanto, a origem de tais ações acaba por ser esquecida, adquirindo ações altruístas através do costume da linguagem, como se as coisas fossem boas em si mesmas. Essa é a segunda aplicação. Para Nietzsche não há nada que seja bom em si mesmo.
O conceito de ‘bom’ se dá por aqueles que, através de uma prática, consideraram determinada ação como boa. É contra esse utilitarismo que Nietzsche luta. O utilitarismo não entra em sua moral.
“[...], que estabelece um conceito “bom” como essencialmente igual a “útil”, “conveniente”, de modo que nos conceitos “bom” e “ruim” a humanidade teria sumariado e sancionado justamente as suas experiências inesquecidas e inesquecíveis acerca do útil-conveniente e do nocivo-inconveniente”.
Toda essa conceptualização do ‘bom’ e do ‘mau’, originada na antítese da divisão das classes sociais, nasce, justamente, do pensamento de que o homem é um ser dominante. Isso está inteiramente intrínseco em seus instintos. No instinto de dominação é que a genealogia da moral encontrou sua real expressão.
Os valores que o filosofo propõem aparecem criticamente na obra do escrito russo, viver em meio ao subsolo representa o reflexo do homem naquilo que a história o deixou de herança a crueldade segundo Nietzsche fala: “[...], a crescente espiritualização e “divinização” da crueldade, atravessa toda a história da cultura superior (e até mesmo a construir, num sentido significativo).” (NIETZSCHE. p. 51).
Assim, concretiza-se o perfil do homem subterrâneo vitima das suas condições existências e possuidor de um comportamento relativo ao espirito de vingança em uma atitude maquinal de usar o próprio corpo como fuga das regras da sociedade moderna.
4. A MORAL DO SUBSOLO
Agora investigaremos mais a fundo a relação desses dois autores, visto que aqui não se trata de um sistema abstrato, como se esperaria de um artista. A obra de Dostoievski, além de artística, é perpassada por uma intuição intelectual, por um senso filosófico genial. Sua obra, podemos dizer, é uma ciência do espírito. Espirito este que vem assessorar o sentimento de escravo e a condição servil juntamente com a negação do prazer e o afastamento da condição corporal.
“No senhor há verdade, mas não há pureza; por motivo da mais mesquinha vaidade, traz a sua verdade a mostra, conduzindo-a para a ignomía, para a feira... Realmente quer dizer algo, no entanto, por temor, oculta sua palavra derradeira, porque não tem suficiente decisão para dizê-la [...]”. (DOSTOIÉVSKI. p.52)
Acima, vimos que no subsolo existe uma condição servil de um homem mal a qual a pureza inexistente e decorrente de uma aceitação da humilhação da moral de escravo, uma espécie de desconforto que reflete à partir de uma destruição do homem pelo homem, desta forma a intensificação da vida começa a não mais caber dentro de uma lógica de sensibilidade e sim em um ângulo de sobrevivência afastando-se de todos para que a ideia de bem/ mal seja universal e preencha todo o subsolo.
Tudo isso explica porque o homem só consegue pensar em relação ao pensamento de outros. O bom é aquilo que o homem achou útil para si, vindo do outro. A utilidade mesquinha, a referência a outros para pensar e agir torna-se, para Nietzsche, uma origem marcada de uma inércia duvidosa e de um hábito sem graça. Isso somente distancia o homem daquilo que é realmente autêntico. Por isso encontramos uma relação ainda maior com a mentalidade do narrador-personagem e o seu discurso alucinado, sua veemência desordenada, o fluxo continuo de sua fala para justificar a sua vida intima dentro do Subsolo.
5. CONCLUSÃO
Com sua obra, Nietzsche não só demonstra um gênio perturbado com as relações dos homens, mas também nos perturba, levando-nos a questionar os laços relacionais que todos temos. Dostoiévski concebe a inversão dessa máquina apresentado o homem já perturbado e longe de salvação, o corpo encontrado em Nietzsche comporta-se como habitação para as memórias, que nada tem de antigas, de Dostoiévski apresentando uma ética no campo do bem e do mal fundamental e decisiva procurando mostrar o mal com o mal como forma de se chegar em um bem maior.
Na minha concepção ao ler tais obras existe uma possibilidade de consciência que permeia o âmbito das relações entre os homens, àquilo que é mal ou aquilo que é bom, não chega perto daquilo propriamente dito é mal e é bom, só assim corpo daquele que vive no subsolo pode permanecer em uma condição de realidade. Essa condição apocalíptica do homem que aparece em memórias do subsolo julga não um fim, mas um início especial da moral.
REFERÊNCIAS
DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Memórias do Subsolo. São Paulo: Editora 34, 2000.
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Genealogia da moral: uma polêmica. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
domingo, 8 de janeiro de 2012
As raizes medievais da europa - comentarios

Escrito por Jacques Le Goff, As raízes medievais da Europa (Editora Vozes. 2007) é uma ilustração detalhada do aparecimento e desenvolvimento, a qual traça, a infância e juventude da Europa tendo marco de inicio a Idade Média.
Ao atentarmos nossa atenção ainda mais para o titulo da obra veremos que raízes concorrem com o mesmo sentindo de gênesis, o inicio, pressupondo que a Idade Média seria a mãe e o pai da Europa e que as transformações ocorridas no ocidente medieval refletem ainda mais a identidade européia, ao mesmo tempo, logo em seu prelúdio, o autor nos coloca a Idade Media como uma transportadora das heranças clássicas do antecedente europeu: a herança grega, a romana, e a herança bíblica que não fora transmitida pelos judeus e sim pelos primeiros cristãos. Le Goff não trata a passagem do império romano para o período medieval como um acontecimento catastrófico, ele coloca essa transição como um processo de uma evolução gradual a qual lentamente começa surgir a Europa propriamente dita, onde se destaca o cristianismo como elemento fundamental norteador de uma cultura européia, percebendo a cristianização herdada do Império Romano tornando religião oficial em 380, ao comando do imperador Teodósio, faz com que a Idade Media torne-se caracterizada pela fé em Cristo e pelo controle da Igreja. Neste momento a personagem de Santo Agostinho ganha destaque no desenvolvimento do cristianismo. Ele defendeu a ortodoxia cristã em debates teológicos terríveis com hereges, nas controvérsias donatista. (SPROUL, 2002:59).
Agostinho conseguiu fazer uma síntese filosófica entre platonismo e cristianismo, porém sua obra não evidencia um sistema como tal. Suas reflexões sobre as áreas fundamentais da epistemologia, da criação do problema do mal e da natureza do livre-arbítrio são de importância permanente. Ele influenciou o desenvolvimento da doutrina da igreja da doutrina da trindade e da doutrina da graça combatendo todas as formas de ceticismo procurando estabelecer um fundamento para a verdade, Le Goff cita algumas obras mais importantes do filosofo padre, Confissões. Cidade de Deus e Cidade dos anjos, obras estas que fundamentaram para Idade Media uma regra monástica e racionaliza pela primeira vez a fé cristã.Com uma leitura mais apurada e detalhada da obra nos deparamos com um pequeno equivoco do autor ou um equivoco da editora. No capitulo I com o subtítulo Invasões e aculturação, no terceiro parágrafo, precisamente na página 39 encontramos o seguinte enunciado: “Depois da morte de Moisés em 632, os árabes e os convertidos ao Islã, os mulçumanos conquistaram de maneira fulminante a península arábica, (...)”. Neste capitulo o autor destaca a grande onda de acontecimentos ocorridos a partir do século III e chega até a invasão dos mulçumanos na Europa, aqui compreendemos melhor o equivoco, a personagem histórica destacada acima não seria a figura de Moisés e sim Maomé que tem sua data de morte em 632, evidentemente Moisés, o líder escolhido por Deus para libertar os israelitas da escravidão do Egito, é uma figura datada do período anterior a cristo. Além disso, logo após a morte do profeta Maomé a expansão continuou em duas direções. Uma delas voltada para o Oriente Médio, Pérsia e Índia e outra para o Norte da África. No ano de 711 os muçulmanos atravessaram o estreito que liga a África à Espanha. Em pouco tempo quase toda a Península Ibérica estava sobre o controle muçulmano, exceto uma pequena faixa de terra ao norte.
A construção da Europa ou tentativa de construção da Europa está às mãos de Carlos magno que assumiu o trono e por suas realizações é considerado como o mais importante dos reis francos, organizou um exercito forte, do qual faziam parte os grandes proprietários de terra, entretanto seu governo não tinha sede fixa às decisões mais impotentes politicamente eram tomadas no palácio de Aix-la-Chapelle, no noroeste da frança. Após a coroação de Carlos Magno a Imperador, a Igreja pretendia fazer reviver o Império Romano do Ocidente sob o comando de um monarca cristão. Ainda com sua pouca instrução o imperador fundou ao lado de cada igreja, escolas gratuitas para a população e nos mosteiros escolas para os sacerdotes abrindo também no próprio palácio uma escola que era freqüentada sem distinção de tratamento por meninas e meninos de famílias pobres e de nobres.
O plano político-administrativo e jurídico Carlos Magno assumiu o controle dos tribunais, padronizou o sistema de moedas e passou a fazer uso crescente dos documentos escritos. Seus administradores escolhidos geralmente entre a nobreza local eram escolhidos como marqueses e a outra categoria de nobres da confiança do imperador e os duques. Cada um deles tinha o poder de convocar e comandar pose exércitos de vários condados, com essa estrutura administrativa, Carlos Magno mantinha controle sobre todo o império, também procurava governar a Igreja exercendo autoridade sobre o papa: era ele quem praticamente escolhia os bispos e os empregava como simples funcionários do Estado. Neste ponto de vista, o Império Carolíngio nos parecerá um esforço notável. Mas em ultima analise falho. (LE GOFF. 2007: 54).
A projeção do culto mariano é um grande cargo de destaque na Idade Média. Segundo o autor este movimento começa a ganhar espaço no século XI nas crenças e nas praticas do ocidente cristão. Parece-me que nestas condições a Virgem alcança um status superior excepcional. Vejo nela uma espécie de quarta pessoa da trindade (LE GOFF. 2007; 113).O culto a Virgem Maria está associado à defesa da virgindade. Relativamente a Maria, tanto Oriente como Ocidente celebram-na como festa da nova Eva, virgem obediente e fiel que se torna por obra do Espírito Santo, Mãe de Deus, mas também verdadeira Mãe dos vivos, verdadeira Arca da aliança e verdadeiro Templo de Deus; memória de um momento culminante do dialogo de salvação entre Deus e o homem e, comemoração do livre consentimento da Virgem e do seu concurso no plano de redenção. (FLORES. 2006; 125), com a maior aceitação do mistério cristão as leituras feitas do antigo e novo testamento buscam ainda mais a evidência da virgem Maria como agente e testemunha singular da encarnação expandindo o intimo em expressões de glorificação a Deus, de humildade, fé, esperança, no qual ressoa profeticamente antecipada, a voz da Igreja.
Ao analisar o culto a Maria o autor nos prende em uma intrigante questão, se o reverenciado culto a virgem modificou a condição terrena da mulher? Para o mesmo, a imagem da virgem torna-se como salvadora e redentora dos pecados, contrário a Eva a qual se tornou responsável pela entrada do pecado no mundo muito distante do ideal da Virgem, criada pela Igreja, considerada a agente de Satã, responsável pela desgraça do homem, e por desviá-lo do caminho da salvação.
A perseguição aos judeus contada pelo autor foi a mais duradoura e mais abominável, responsabilizados pela morte de Cristo, eles foram acusados de dissídio e se tornaram objeto de desconfiança, inveja, desprezo dos cristãos. O anti-semitismo tomou uma dimensão sem precedentes. Muitas restrições lhes foram impostas. Existiram tributos específicos para eles. Eram proibidos de casar com cristãos e não podiam ter escravos ou empregados cristãos, ocupar cargos públicos, nem legar heranças ou construir sinagogas. Estavam sempre se defrontando com o dilema de escolher entre o batismo ou a morte. Rejeitados pelos cristãos, os judeus se recusavam a manter, com aqueles, uma vida em comum. O comportamento dos judeus produzia desconfiança e medo: eles se escondiam em ritos misteriosos, conservavam um estranho idioma, permaneciam apartados e formavam um grupo fechado. Os judeus acreditavam no Antigo Testamento e renegavam o Novo, que, segundo os cristãos, era o desfecho e a explicação do Antigo. Aos olhos da cristandade, constituíam mau exemplo para todos, principalmente para os pagãos que os cristãos buscavam atrair.
A partir do final do século XI, atendendo ao chamado da Igreja e alegando cumprir a vontade divina, grupos de peregrinos e soldados assolaram o norte da Europa, a caminho do Oriente, obrigando comunidades inteiras de judeus a escolher entre a morte e a conversão. Assassinatos em massa, em Worms, Neuss, Trier e outras localidades, respondiam às acusações de que judeus inimigos da fé matavam crianças. Milhões de judeus foram vítimas da ação dos cruzados. Na primeira cruzada, sofreram perseguições e foram submetidos a batismos forçados. O isolamento dos judeus, que os tornava cada vez mais vulneráveis as perseguições (...), ( LE GOFF.2007;128).
Além do mais o autor fala do movimento das cruzadas onde o crescimento populacional levou à ocupação de áreas ainda não utilizadas para plantio, como florestas e pântanos. Entretanto, a disponibilidade de terras nessas áreas era limitada. Além disso, a população se expandia em ritmo mais acelerado do que a produção. Dessa forma, crescia o número de pessoas que caíam na mendicância ou banditismo.
Ao mesmo tempo, os senhores feudais ampliaram as obrigações dos servos, o que levaram muitos destes a abandonar as terras em que viviam ou a serem expulsos delas. Tal situação começou a colocar em crise as relações servis que sustentavam a economia feudal. A crise atingiu não só os camponeses, mas também os nobres, que, para não fragmentar seus domínios, passaram a fazer uso do direito de primogenitura, pelo qual apenas o filho mais velho poderia herdar o feudo. Com isso, os filhos mais novos eram obrigados a procurar outros meios de sobrevivência. Jovens cavaleiros saíam então pelo mundo em busca de oportunidades: um casamento vantajoso, o seqüestro de alguém da alta nobreza para cobrar resgate. Tais condições, somadas ao espírito de aventura dos cavaleiros e às disputas territoriais, propiciaram um clima de constantes lutas entre a nobreza. Na tentativa de controlar a situação, no início d século XI o papa proclamou a Paz de Deus, pela qual os combates foram limitados a noventa dias por ano. Foi meio a essa situação que o papa Urbano II lançou seu apelo à cristandade, dando início às Cruzadas.
O saldo das Cruzadas para o Ocidente não foi tão animador quanto esperavam seus participantes. Ainda que tenham oferecido aos cavaleiros e aos camponeses do século XI uma saída para o excedente populacional, na prática seus resultados foram quase nulos. Na verdade, o Mediterrâneo nunca chegou a ser um “mar deserto”, fechado pelos muçulmanos, como se acreditou por um tempo. As cidades da península Itálica, por exemplo, mantiveram-se ativas durante a Idade Média e seu comércio com o Oriente sempre foi relativamente intenso. Da mesma forma, ocorriam intercâmbios culturais e econômicos entre cristãos e muçulmanos na península Ibérica. Seja como for, ao fundar reinos cristãos no Mediterrâneo oriental, os cruzados promoveram a expansão das sociedades européias e fizeram entrar em circulação na Europa produtos orientais, sobretudo especiarias, importadas por mercadores da península Itálica. Os saques realizados pelos cruzados nas cidades muçulmanas transferiram para a Europa grande quantidade de moedas, aumentando sua circulação no continente. Isso colaborou para que surgissem companhias mercantis, formadas pela associação de comerciantes, que investiam capital na compra de barcos e de mercadorias.
Com a reativação do comércio e das cidades a partir do século XI, expandiram-se a economia monetária e o mercado, fortalecendo a burguesia mercantil. Estimulados pela formação de um mercado consumidor, os senhores procuraram aumentar a produção de seus feudos. As relações servis entraram em crise. Muitos servos se tornaram livres e passaram a arrendar terras dos senhores com base em contratos. Outros migraram para as cidades, desligando-se das relações servis de produção. Com o desenvolvimento comercial, todo o sistema feudal entrava em crise.
De modo geral o livro compõe-se em uma verdadeira viagem ao gênese da Europa, a Idade Media, invadindo o imaginário e o tempo que constrói a historia sem deixar de obter em suas entrelinhas a busca da verdade.
REFERÊNCIAS
FLORES, Juan Javier. “Introdução à Teologia Litúrgica”. Editora Paulinas. 2006.
LE GOFF, Jacques. “As raízes medievais da Europa.” Editora Vozes. 2007.
SPROUL, Robert Charles. “Filosofia para Iniciantes.” Editora Nova. 2002.
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